sábado, 28 de janeiro de 2012

Causos de Boteco

Sábado a tarde em Caldas. Dia de recolher curiosidades na mercearia do meu avô. Sento com meu pai, como faço desde criança para ouvir as histórias. Hoje ouvi a do lobo. Não é a primeira vez, mas o protagonista da lenda é que narrou a peripécia. Posso reunir com duas palavras: história de pescador. 
Pescaria. Um grupo de amigos vai pra beira do rio, monta acampamento, lança as redes e prepara o jantar. Uma panela de arroz com carne e uma panela de frango ao molho. Preparam a refeição em grande quantidade. O suficiente para que os três casais e a vela jantassem.  Retificando. Eram sete pessoas no acampamento.
A região é infestada de lobos, diz Passarinho. Foi dele que ouvi a história. Foi dele que rimos litros enquanto escutávamos sobre o improvável. Depois do jantar, de algumas doses de pinga de engenho e outras quedas de truco eles foram dormir. 
Quando amanheceu Passarinho foi escovar os dentes, na beira do rio. A tampa de uma das panelas estava ali, jogada. O café deveria ser colocado no fogo. Se restassem panelas! Tanto a que tinha sido usada para o arroz, quanto a que continha molho de frango tinham desaparecido. 
Sem panelas o final de semana estava acabado, algumas horas antes do programado. Não poderiam almoçar. Os rapazes foram recolher as redes, as moçoilas preferiram tomar um pouco de sol. Engraçado é que ao redor da fogueira estava cheio de rastros de cachorros. 
Enquanto as mulheres caminhavam, me disse o Passarinho, uma das panelas foi encontrada. Vazia. Nada do frango, nada do caldo. Parecia lavada e areada: foram os lobos. "Rastro de cachorro não é igual do de lobo?" 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Domingos

"A palavra esquecer não existe no dicionário de minha família." Ouvi isso de um motorista, enquanto ele me levava para o lançamento da campanha contra Hanseníase promovida pela Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia.  Esse foi apenas um dos trechos do dialogo, quase monologo, que travamos entre o Paço e a Galeria Fama. José Domingos é seu nome. E esquecer é simples assim: irresponsabilidade. 
Além de motorista, José Domingos vende colchões magnéticos. Melhora, e muito, a saúde de quem os usa. O colchão ortopédico força o quadril, o colchão de espuma afunda demais. O magnético é o melhor para o ser humano. Ele libera raios infravermelhos longos, que reproduzem o sol da manhã. Ajuda na fixação da vitamina D e, consequentemente do cálcio. 
Domingos é curioso. Ele ia me dizendo o ano e o modelo dos carros olhando as suas placas. Aquelas que começam com "O" são de carros emplacados em 2012. "NV" e "NW" são de veículos que saíram as concessionárias em 2011. Disse que meu carro é 2010/2010. De pronto ele afirmou: a placa é "NK"? Não é goiano, embora eu não tenha conseguido descobrir qual é seu estado de origem. 
Domingos reclama dos outros motoristas. "Aquele ali precisa levar o carro na autoelétrica" Questiono o motivo, embora seja óbvio. "A luz de seta não acende, deve estar queimada." Poucos metros depois, um sinaleiro e uma facha de pedestres: esse cachorro é mais educado que muita gente. "a faixa não é segura, mas com ela fica mais fácil, atrapalha menos o trânsito.
José dirigiu o país inteiro. Dirigia para uma empresa. Prefere as rodovias às ruas da cidade. Andava a 180, 200 por hora. Ficava irritado quando não conseguia alcançar essa velocidade. Sua média era de 160 horários. "Graças a deus não nos envolvemos em nenhum acidente."

sábado, 21 de janeiro de 2012

Sangue rubronegro

Sou um torcedor de coração dividido. As cores rubronegras decoram meus pensamentos quando trato de esportes. Tenho verdadeira paixão pelo Clube de Regatas Flamengo e pelo Atlético Clube Goianiense. As duas equipes disputam a primeira divisão do futebol brasileiro, mas são diferentes em suas origens e na popularidade de suas massas.
O Dragão é uma equipe pequena, localizado na capital de um estado periférico. O Urubu é uma grande equipe, sediada na Cidade mais conhecida do país. Dizem que o rubronegro carioca tem preferência da mídia nacional, pode ser, pode não ser. Apesar disso, o Atlético poderia ser um exemplo para o Flamengo. Há pouco tempo a equipe goiana praticamente inexistia. Seu estádio, o Antônio Accioly, foi demolido para dar lugar a um shopping center. No ano de 2003 disputamos a segunda divisão do campeonato goiano. 
Um choque de gestão fez com que o Rubronegro goiano ressurgisse. Em 2005 voltamos à série A do campeonato Goiano e em 2009 chegamos pela primeira vez vez à elite do futebol brasileiro, que disputamos nos anos de 2010 e 2011. Em 2012 o Atlético disputara quatro competições oficiais: Goiano, Copa do Brasil, Copa Sulamericana e Brasileiro.
O rubronegro carioca está no meio de uma crise. Incrível como o Flamengo vive passando por situações dessas. E, coincidentemente, no centenário do Futebol. Uma crise parecia com aquela que tomou a Gávea em 1995, quando comemorávamos o centenário do clube. O técnico é o mesmo. Professor Luxemburgo. Ele divide os holofotes com outra estrela. No século passado era o baixinho Romário. Outra coincidência: o craque de 2012 também jogou monstruosamente no Barcelona: Ronaldinho Gaúcho.
A dívida do Flamengo é imensa, um monstro que se retroalimenta. Títulos são importantes, mas reorganizar as finanças também. Ainda bem que Thiago Neves foi embora. Era dinheiro demais pra um caboclo só. Ainda tentamos o Love. Não sei se compensa. Não temos patrocinador master. Cadê o marketing? O choque de gestão que afetou vitoriosamente o Atlético precisa acontecer no Flamengo. 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Orquestra de de Cães executam a Marcha Imperial

No próximo dia 5 vai ser realizado o SuperBowl da aytual temporada da NFL. A Volksvagen realizou um teaser para exibir nos intervalos do evento. A montadora alemã reuniu um coral de cachorros. Vestiu os melhores amigos do homem como personagens de Star Wars. Se não bastasse isso, os felpudos entoam a Marcha Imperial!



quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Todos, menos Luiza, com Mafalda contra SOPA


A Wikipédia norte-americana está fora do ar hoje, em protesto contra a SOPA. Esse é um conjunto de leis que tramitam no congresso dos Estados Unidos defendido pelas companhias de entretenimento, editoras que o consideram críticos para reprimir a pirataria digital. Ele é comparável ao projeto de lei brasileiro apelidado, no Brasil, de AI-5 Digital.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Discografia de Nara Leão

Abro o jornal O Hoje e encontro uma informação fantástica. Isabel Diegues, filha de Cacá Diegues e Nara Leão disponibilizou toda a obra da mãe para ser ouvida no site: www.naraleao.com.br.
É, ou não é uma boa notícia? O portal  traz a cronologia da cantora, além das letras das músicas, documentos, fotos, vídeos. 

sábado, 14 de janeiro de 2012

A Jornada do Herói, de Joseph Campbell aplicada a Dinastia M



  1. A Jornada do Herói
Nesse trabalho faremos um estudo da forma como a narrativa da minis-série é construída a partir da perspectiva da jornada do heroí campbelliana.
No livro O Herói de Mil Faces o antropólogo norte-americano Joseph Campbell propõe uma forma de análise para todas as histórias contadas pelo homem. Ele nomeia essa possibilidade de análise como “jornada do herói.” Antes de falarmos da jornada do herói e de seus passos é necessário que façamos uma contextualização em relação a essa perspectiva de análise.
Campbell trabalha no prólogo do seu livro o que chama de monomito. Este termo ele pegou emprestado do conto Finnegan’s Wake, de James Joyce, autor irlandês sobre o qual publicou um livro em 1944. O monomito seria a representação da história universal, arquetípica e fundamental.


Paralelamente às teorias de Carl Jung sobre os arquétipos e o inconsciente coletivo, Campbell trabalha a noção de que as histórias (todas elas) estão ligadas por um fio condutor comum. Assim, desde os mitos antigos, passando pelas fábulas e os contos de fadas até os mais recentes estouros de bilheteria do cinema americano, a humanidade vem contando e recontando sempre as mesmas histórias. (Rícon, 2003)

Sob essa perspectiva a condução da narrativa de qualquer história, que é a domesticação do tempo seria feita a partir de um mesmo esquema estrutural. A jornada do herói, em Campbell, como releitura da história universal retoma um pouco a perspectiva estabelecida por Sófocles em Édipo Rei.
A análise proposta pelo mitólogo para o estudo das narrativas míticas é dividida em três grandes grupos temáticos, que por sua vez são também subdivididos.
O primeiro dos grandes grupos é chamado de Partida, nome que se auto-explica. O herói está em seu mundo cotidiano, ou mundo comum quando recebe o chamado para a aventura. Ele pode aceitar ou recusar esse chamado para o qual vai receber a ajuda de um mentor ou tutor que o acompanha até a primeira barreira ou, como até o primeiro limiar que abre espaço em direção ao ventre da baleia, expressão que retoma ao mito bíblico de Jonas.
Assim que cruza o primeiro limiar e, se encontra no ventre da baleia começa aquilo que foi chamado por Campbell de Iniciação. Ao ser iniciado o herói encontra uma série de provações pelas quais deve passar para provar sua capacidade de enfrentar seu verdadeiro antagonista. Em seguida ele faz o seu encontro com a deusa que “é o teste final do talento de que o herói é dotado para obter a benção do amor, que é a própria vida, aproveitada como invólucro da realidade.” O encontro com a deusa é representado, em Édipo Rei, pelo primeiro contato que Édipo tem com sua mãe, Jocasta, antes que eles consumem a profecia se unindo carnalmente. A união de fato, entre Édipo e Jocasta é chamada por Campbell de “a mulher como tentação”. Escapando dessa crise o herói passa pelo encontro com o pai, que pode ser representado pelo auxílio de forças místicas, como em outros momentos da jornada. Ao superar esses obstáculos o herói pode, finalmente, enfrentar o grande inimigo que conduz a sua história. Campbell chama esse momento sublime de apoteose, a superação final de seus problemas que vai resultar no contato com o elixir, ou a benção última.
Para completar o círculo do monomito, após vencer todas as provações pelas quais passou, o herói deve retornar ao mundo comum de onde partiu sua aventura. Mas nem sempre esse é o desejo imediato da personagem mitológica. Campbell fala da recusa inicial de Sidarta Gautama, o Buda, a transmitir a doutrina que o fez alcançar o nirvana. O retorno, no entanto, não precisa ser simplesmente necessário. Caso o herói tenha trabalhado contra o fado ele pode sofrer uma perseguição em sua tentativa de voltar ao mundo cotidiano, já que essa tentativa seria contrária aos desígnios de algum tipo de força. Em conseqüência dessa perseguição o herói pode necessitar, mais uma vez, de algum tipo de auxilio que parte do mundo comum que o recupera da morte.

As aventuras do herói se passam fora da nossa terra conhecida, na região das trevas; ali ele completa sua jornada, ou apenas se perde de nós, aprisionado ou em perigo; e seu retorno é descrito como uma volta do além. Não obstante – e temos diante de nós uma grande chave da compreensão do reino e do símbolo -, os dois reinos são, na realidade, um só e único reino. O reino dos deuses é uma dimensão esquecida do mundo que conhecemos. E a exploração dessa dimensão, voluntária ou relutante, resume todo o sentido da façanha do herói. (Campbell, 1949)

Ao completar e contemplar sua façanha o herói se mostra senhor dos dois mundos. O comum e o aventuresco. Suas ações foram tão significativas para movimentar a presença da história e a relevância da mesma, fazendo com que se torne necessária contá-la que sua capacidade de controle e a ciência das duas facetas da existência o colocam, mais uma vez, acima dos seus pares.

  1. Dinastia M (House of M)
2.1. Vingadores: A Queda - Prelúdio
Dinastia M, House of M no original, é uma mini-série em quadrinhos publicada em quatro volumes pela editora Panini Comics no Brasil. O roteiro foi escrito por Brian Michael Bendis e a arte é de Olivier Copel. A mini-série reúne os dois principais grupos de super-heróis da Marvel Comics: Os X-men e os Novos Vingadores.
A mini é conseqüência de dois importantes arcos: Planet X, protagonizado pelos X-men; e Vingadores: A Queda, protagonizado pelos Vingadores, ainda sem “Novos” no título. Apenas por ser anterior à Dinastia M, os eventos de Planet X não são relevantes para o entendimento da mini-série. Vingadores: A Queda, no entanto, é um arco fundamental sem o qual Dinastia M não teria sido possível.
Em Vingadores: A Queda a mansão do grupo de super-heróis é constantemente atacada por forças desconhecidas. O super-grupo é incapaz de descobrir de onde vêm tantos inimigos e com tamanha força. No desenrolar da trama percebe-se que a vingadora Wanda Maximov, conhecida como Feiticeira Escarlate, havia perdido o controle de seus poderes e a partir disso causou todos os prejuízos à sua equipe, além da morte de três de seus membros. O Visão, o segundo Homem-Formiga e o Gavião Arqueiro.
No fim do arco Magneto leva sua filha, a Feiticeira Escarlate, para a ilha de Genosha onde estava o mutante Charles Xavier, líder dos X-men. Magneto pretendia que o maior telepata do planeta auxiliasse sua filha a se recuperar da crise pela qual passou e tomou sua sanidade.
Por seis meses a Feiticeira Escarlate permanece em um sono induzido pelo professor X, que tentava tratá-lo. Xavier tentou de todas as formas possíveis recuperar a sanidade da mutante, sem sucesso. Não só o professor X tentou curar a mutante enlouquecida. O mestre das artes místicas, Doutor Estranho, também tentou ajudar no tratamento da Feiticeira Escarlate sem sucesso.
Esses são os antecedentes da história que Bendis narra ancorada pela construção visual de Olivier.
Percebendo a sua incapacidade de encontrar uma cura para a sua paciente, Charles Xavier deixa Genosha indo à Nova Iorque onde se encontra com os X-men, os Novos Vingadores e os Antigos Vingadores. Além dos dois grupos o Homem Aranha e o Dr Estranho também são convocados para a reunião que definiria o futuro da insana Feiticeira Escarlate.

    1. Dinastia M - Minissérie
Enquanto os X-Men e os Vingadores decidem o futuro da agora insana Feiticeira Escarlate, ex-vingadora e heroína mutante, Pietro se encontra com o pai, Magneto, em Genosha para tentar salvar a vida de sua irmã gêmea. O pai diz que não pode fazer nada. Ele sai inconsolável. Minutos depois, os heróis chegam para poder encontrar Wanda, visto que não há outra solução. O Homem-Aranha é o primeiro a pressentir que algo vai acontecer. Quando Charles Xavier desaparece de suas vistas, os X-Men e os Vingadores vão atrás de quem havia feito aquilo. Chegando perto de uma igreja em ruínas, eles vêem um clarão que envolve a todos. Peter Parker acorda confuso, com seu filho chorando e sua mulher, Gwen Stacy, o manda cuidar do menino. A partir daí, todos tem vidas diferentes. Peter é casado com Gwen. A Miss Marvel é uma grande heroína que persegue vilões como Gambit. Seu namorado, Magnum, se encontra em uma entrevista com Cristal em seu programa de TV. Scott é casado com Emma Frost. Tony Stark é um humano poderoso com várias indústrias, onde trabalham Hank McCoy e Henry Pym. Sam Wilson é um detetive que tenta descobrir os segredos do revoltoso Luke Cage e sua gangue de humanos. E, por sua vez, Wolverine faz parte de um grupo da SHIELD, companheiro de Jessica Drew, Groxo, Mística, Vampira e Noturno. O problema é que Wolverine se lembra de toda a sua vida, até mesmo de Wanda e sua insanidade.
Fugindo da SHIELD, Wolverine se joga do porta-aviões aéreo e foge à procura de qualquer herói para dizer o que estava havendo. Ele pega a revista The Pulse e vê que o mundo agora é uma utopia mutante. Quando sua equipe aparece para levá-lo de volta, ele foge e é salvo por Manto, que o leva para a resistência humana liderada por Luke Cage. Lá ele vê heróis como a Gata Negra, Punho de Ferro e o Cavaleiro da Lua. Também encontra o suposto falecido Gavião Arqueiro, pessoa a quem não esperava encontrar. Ele contou toda a história, mas quase que não acreditavam, nem mesmo Clint Barton. Foi aí que Luke apresentou Layla Miller. Ele contou que ela apareceu com o mesmo relato e que falou sobre a esposa e a filha dele, o convencendo a acreditar na história. Então foram atrás de Emma Frost, a Rainha Branca, para poder salvar o mundo. Layla usou seus poderes e Emma Frost se lembrou de tudo. A partir daí, Layla usou seus poderes em Scott. Peter Parker foi o próximo e não aguentou o impacto da revelação, pois sentiu novamente a perda de Gwen, do filho e do Tio Ben, que estava vivo na Dinastia M. Decidiu que iria matar Wanda e seu pai, custasse o que custasse. Outros que foram rememoriados foram Miss Marvel, Tony Stark, Kitty Pride (que havia se tornado professora), Matt Murdock e Jenny Walters, advogados; e o Dr. Estranho, psiquiatra. Não rememoriaram o Steve Rogers, que estava velho ao não ter sido congelado nessa realidade. Os membros da equipe de Wolverine também foram rememoriados ao tentar atacarem os heróis. Foi aí que os heróis partiram para o contra-ataque. Atacaram na hora da festa onde estavam presentes vários convidados, entre eles o Pantera Negra, Tempestade, Genis-Vell, Destino e Namor. Na luta, Wanda desapareceu mas o Dr. Estranho foi atrás dela. Foi aí que ele percebeu, em imagens feitas por Wanda, que ela havia sido enganada por Pietro. Nesse momento, o Gavião Arqueiro entrou e a acertou. Perguntou o porquê de sua morte e ela disse "Eu o ressussitei, não é?". Willian o desmaterializou e ele sumiu. Enquanto isso, Magneto se lembrou de tudo e foi atrás de Pietro. Matou o filho que foi ressuscitado por Wanda. Ela disse muitas coisas, e por fim, falou Chega de mutantes!. Um clarão veio de novo e, quando, voltou ao normal, 90% dos mutantes haviam perdido os seus poderes.
  1. Análise fragmentada da “Jornada do Herói”, de Campbell em Dinastia M
A história começa com a apresentação dos fatos, onde Magneto (líder dos X-men) perdeu a guerra contra os “sapien” (humanos) e os mutantes são minoria no planeta. Além dos X-men, que lutam por uma convivência pacífica com os humanos, há outro grupo mutante, os Vingadores, criados para serem os mais poderosos heróis do planeta.


- A PARTIDA
Mundo Comum:
Wanda Maximoff (Feiticeira Escarlate), filha de Magnus (Magneto), perde controle do seu poder de transformação da realidade e mata três dos Vingadores. Charles Xavier e Magneto mantêm a heroína sob sono induzido por meses, até que se decida o que fazer com ela.

Apresentação do contexto que leva a aventura. Fato que desencadeou a narrativa.

Chamado a aventura:
Após meses de discussão e tentativas sem sucesso de cura de Wanda, o Professor Charles Xavier convoca umas reunião com Vingadores e X-men para discutir o caso de Wanda e tentar solucioná-lo.
Os heróis divergem em matá-la ou não, já que tudo o que poderia ser feito para evitar essa solução drástica foi em vão.

Charles Xavier configura-se como líder. A “aventura” seria a solução do caso de Wanda.

Recusa do chamado:
O irmão de Wanda, Pietro (Mercúrio) se desespera com a possibilidade de morte da irmã se revolta contra o pai, conformado com a situação, e tenta convencê-lo a usar seus poderes para salvar a irmã.

A resistência ao chamado da aventura é personificada na figura de Pietro, que nega a possibilidade da morte da irmã em nome do bem comum. Sabe-se que ele tentará evitar a solução, atrapalhando os planos.

Auxílio Sobrenatural (encontro com o mentor):
Os heróis decidem ir a Genosha (nação mutante) onde estão Wanda (em sono induzido), Magnus e Pietro, para decidir o que fazer.

Genosha, nesse caso, configura-se como “Lugar mágico” onde as soluções podem ser descobertas, onde algo está oculto e pode ser revelado. Não fosse isso a decisão poderia ser tomada sem a necessidade de locomoção dos heróis ate a cidade.

Primeiro Limiar: Ponto sem retorno.
Ao chegar em Genosha descobrem que Wanda desapareceu.
O mundo fica branco e cada um dos heróis acorda em uma realidade alterada, outro mundo. Apenas Wolverine percebe o que houve.
No novo contexto os mutantes dominam o mundo, governados pela Dinastia M (família de Magneto), os sapien são renegados e vivem em “Hell’s Kitchen”, um gueto no submundo.

Não há fuga da situação. O mundo subitamente acordou “ao contrario” e apenas um mutante sabe disso. Pode ser que ninguém mais tenha percebido, Wolverine pode ser considerado insano, e talvez nem mesmo tenha acontecido. Até então não há como escapar ou retornar ao ponto de início.

O ventre da baleia:
Os heróis são jogados em outro contexto, numa realidade diversa da anterior, mas que os ilude de que aquele é o “mundo real”.

Os heróis inseridos na nova realidade alterada figurativamente morrem no contexto anterior e renascem no novo contexto. O novo mundo representa a metáfora do útero materno, em cujos mutantes encontram-se perfeitamente inseridos e tudo funciona normalmente, como uma “bolha” de realidade. E da mesma forma como no útero, eles precisam se preparar para sair dessa realidade. O aparente conforto é ilusório, o mundo em que vivem é falso e frágil.

- A INICIAÇÃO
O caminho de provas:
Wolverine procura Charles Xavier para tentar descobrir o que houve, mas não o encontra. Foge dos X-men e é pego por um grupo de resistência sapien. Descobre que o Gavião Arqueiro, herói que havia sido morto pela Feiticeira Escarlate (Wanda) é integrante do grupo sapien. Charles Xavier não existe no novo mundo.

Nesse caminho de busca para tentar compreender os fatos, Wolverine passa por provações, disputas, fulgas, etc. São as “provas” que lhes são impostas para que ele possa continuar a jornada. O tom místico é dado pelo uso da magia pelos mutantes, e dos poderes dos sapien, além do ambiente mágico criado pelo domínio dos mutantes sobre o planeta.

Encontro com a deusa:
Pego pelos sapien Wolverine é ameaçado, conta toda a história para os sapien mesmo pensando ser impossível que alguém possa acreditar. Nisso encontra Laila, uma pequena garota mutante que sofreu o mesmo choque e se encontra bastante abalada.

Laila representa a figura da deusa, a chave para a solução dos problemas e a legitimação do herói enquanto capaz de cumprir a jornada. Encontrá-la significa que a aventura deve ser completada e solucionada e que há meios para isso.
O fato de Laila ser criança trás em si a idéia de purificação agregada ao retorno ao estado inicial. Como se voltar fosse purificar-se e por isso mesmo a nova realidade estabelecida é “errada”, “impura”, e não deve ser aceita.

A mulher como tentação:
Com Laila, Wolverine procura Emma Frost, ex-lider dos x-men, para unir o poder de leitura mental de Emma a capacidade de controle do inconsciente que Laila pode exercer sobre as pessoas. Apenas dessa maneira Wolverine acredita poder revelar aos outros mutantes a verdade oculta sobre o mundo falso e alterado em que vivem.
Procurar Emma é um risco devido a todas as incertezas que cercam o herói. Diante disso Emma poderia colocar todos os planos a perder, arruinar os planos de Wolverine e acabar com a possibilidade de salvação do planeta. A tentação, nesse caso, configura-se como incerteza do que pode ocorrer quando ela for encontrada.

A sintonia com o pai:
Wolverine encontra Emma, coloca-a em contato com Laila e faz ela se lembrar da realidade. Unidos os três procuram todos os super-heróis que podem encontrar e atingem suas memórias utilizando os poderes de Laila e Emma conjugados.
Conseguem assim unir os mutantes para tentar descobrir a verdade e voltar a realidade anterior.

A procura dos heróis e revelação da realidade a eles se configura de maneira caótica na narrativa, sendo apresentada como causa e conseqüência da desorganização mental dos mutantes que descobrem a realidade. A união dos mutante e quase unanimidade na concordância sobre a solução do caso assume papel de esperança e garantia de que os planos serão bem sucedidos. O herói só continua a jornada porque acredita no sucesso, caso contrário a luta não faria sentido.

A apoteose (Aproximação da caverna oculta):
Os heróis se reúnem e decidem invadir a Casa dos M, em Genosha – lar da Dinastia M de Magnus, onde haverá uma festa importante na mesma noite – para tentar descobrir onde estará Charles Xavier e o que exatamente aconteceu. Scott lidera a missão e divide o grupo para invadir a cada de Magnus.

Nesse momento a divindade pode ser contextualizada como o objetivo comum e a própria ação do grupo, pois o futuro do planeta e deles mesmos depende da missão na Casa dos M. A caverna oculta, ou seja, o lugar de mais provação e perigo, que deve ser atingido e enfrentado na luta é representado pela Casa dos M, lugar desconhecido e povoado de “inimigos” cuja reação não se pode prever.

Provação Suprema:
O grupo mutante ataca a Casa no meio da festa e começa uma batalha entre eles e os habitantes e convidados da festa. Laila e Emma procuram indícios do Professor Charles Xavier enquanto o Doutor Estranho tenta conversar com Wanda para compreender o que de fato ocorreu com o mundo, já que ela é a principal suspeita de ter sido responsável pela inversão da realidade.
Wanda parece se descontrolar colocando todo o mundo em risco. Emma e Laila encontram um túmulo vazio de Charles Xavier, e o mistério sobre o desaparecimento do Professor não é solucionado.
Emma e Laila atingem a mente de Wanda e descobrem que quem incentivou-a a reverter a realidade foi, na verdade, seu irmão Pietro, sem o conhecimento de Magnus.
A verdade é revelada a Magnus, que pune Pietro por ter alterado o mundo em seu nome e sem seu consentimento.

Esse é clímax da narrativa, sendo o momento para o qual todos os episódios anteriores foram uma preparação. Os mutantes sofrem perigo de morte e o futuro é imprevisível e totalmente incerto.
A revelação da realidade é o primeiro passo para a volta para casa, o retorno a realidade anterior almejada pelo grupo de mutantes.

- O RETORNO
A recusa do retorno:
Wanda se choca com as conseqüências e se descontrola novamente.

A recusa é personificada na figura Wanda, que não admite o retorno a realidade anterior, ameaçando a resolução dos problemas.

A fuga mágica:
Insana e decepcionada com a frustração dos seus planos, Wanda em uma frase (“Sem mais mutantes”) faz com que todos sejam transportados por uma luz branca a realidade inicial.

O poder destruidor de Wanda transporta os heróis de volta para casa, com o mesmo poder que os tirou de seu mundo.

O retorno para casa:
Os mutantes reaparecem de volta a realidade, mas sem poderes.
Alguns reunidos em uma sala de reuniões, outros voltam ao lugar onde estavam antes da alteração da realidade (casa, trabalho, escola, etc.).
Descobre-se que os poderes mutantes foram subitamente perdidos não só pelo grupo, mas no mundo todo.
A narrativa termina com a reflexão sobre qual será o destino do planeta depois de uma mudança tão drástica e profunda.

A volta para casa, mesmo que sem poderes, representa a ressurreição e o fim da jornada. A recompensa pode ser compreendida como a reversão da alteração da realidade provocada por Wanda.
O fim da narrativa com a reflexão sobre o futuro do planeta deixa espaço para uma possível continuação da saga.

Bibliografia

  • BENDIS, Brian Michael. Dinastia M. São Paulo: Panini Comics, 2005.
  • CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces. São Paulo: Editora Cultrix/Pensamento, 1995.
  • RICÓN, Luiz Eduardo. A Jornada do Herói Mitológico. II Simpósio RPG & Educação.




segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Texto na revista Campo

No ano de 2009 eu conclui o curso de jornalismo na UFG. Antes que eu me formasse trabalhei no jornal Diário da Manhã, por cerca de 8 meses. Por motivos tantos, deixei a função de editor-assistente no jornal para atuar como auxiliar administrativo no Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/AR-GO), quando aprovado em um processo seletivo simplificado. Permaneci praticamente dois anos na função, mas assim que começou 2011 voltei a procurar uma colocação como jornalista.
Durante todo 2011 foram várias entrevistas, currículos enviados e contatos, até que surgiram duas oportunidades: uma vaga na Assessoria de Comunicação da SMS de Goiânia, onde estou hoje, e outra na Assessoria de Comunicação do Sistema Faeg/Senar, para a qual escrevi reportagem publicada na edição do mês de novembro da revista Campo. A reportagem trata de acordo bilateral, assinado entre a CNA, representando o setor leiteiro brasileiro e a indústria láctea argentina.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Folia de Reis



Conceito
Folia de Reis são os cortejos religiosos populares que giram, normalmente, do Natal até o dia de Reis (6 de janeiro), representando a viagem dos Reis do Oriente a Belém para adorar o menino Jesus.
A atuação dos foliões se faz pela música. Ela é essencial nos rituais da Folia de Reis. Ao se aproximar de uma casa a ser visitada ou onde se dará o pouso, o grupo forma duas fileiras e já se aproxima tocando uma marcha e, depois, entoando os cantos. Não se trata, entretanto, de música que tenha validade e importância em si mesma, que se esgote no prazer de ouvir e cantar, tocar e dançar. Não há, em outros termos, autonomia estética. Trata-se, antes, de uma função religiosa conduzida pela música. Os foliões são, normalmente, bons músicos - alguns excepcionais -, mas, ao apresentar os cantos estão, antes de tudo, expressando sua devoção, não raro, cumprindo uma promessa.
As narrativas presentes no cantorio têm sua fundamentação em passagens bíblicas ligadas às profecias do Antigo Testamento a respeito da vinda do Messias (por exemplo, Isaías IX, 6 e 7; Isaías XI 1 - 10; Miquéias V, 1-5) e do Novo Testamento sobre a aparição do Anjo Gabriel para anunciar a Maria sua concepção pelo Espírito Santo, a visita de Maria a sua prima Isabel, o nascimento de Cristo e a viagem dos Magos do Oriente para adorar o menino Jesus na lapinha, em Belém (respectivamente, Lucas I, 26 - 38; Lucas I, 39 - 45; Lucas II, 1 - 20; e Mateus II, 1 - 12). É possível que o nome de Reis se sobrepondo à referência aos Magos, como aparece em Mateus, seja decorrente da associação com um verso do Salmo 71 (10 ...os reis da Arábia e de Sabá lhe trarão presentes. 11 E adorá-lo-ão todos os reis da terra).
O intuito central do giro da folia é propagar e celebrar estes acontecimentos.A gente sente aquele amor, aquela paz, aquela alegria pelos Santos Reis. E a gente sente também que tem uma obrigação de seguir aquela tradição, ensinando e evangelizando. Porque o cantar nosso é uma evangelização que a gente faz. Quem prestar bastante atenção, vai vê que nóis tá cantando a coisa que tá na bíblia. Nóis chamamo assim no deserto, nas fazenda, né? Sai girando nas fazenda, fazendo o evangelho (Seu Cândido - Formosa / GO)
Há que considerar, entretanto, que a fixação escrita não é a regra de transmissão dessas passagens. Como afirmam vários foliões, “a leitura é pouca”. Os cantos que narram estas passagens bíblicas são muitas vezes preservados e transmitidos de avós e pais para filhos e netos, de tios para sobrinhos, numa tradição oral, sem prejuízo de, em algum momento, serem fixados em uma tabela. Cantos antigos, herdados e aprendidos apresentam um traço cultural coletivo advindo da perda da referência de seus criadores com o passar do tempo. Mesmo quando a autoria é perfeitamente identificável, prevalece a conexão estreita do talento individual e da criatividade do artista com saberes, fazeres e valores do povo.
Originários de um modo de vida rústico, estes objetos simbólicos criados por homens do povo, oficiais mecânicos ou lavradores, têm ligações diretas com as condições concretas de uma batalha dura pela sobrevivência. Na concepção da sabedoria popular, o mundo da necessidade está longe de ser desencantado. O realismo no trabalho e na esfera econômica básica está associado com a sobrevivência em um universo potencialmente mágico, construído de acasos, azares e sortes, estando sujeito à intervenção de potências malignas e benignas. Neste contexto, a arte dos mestres da cultura popular, ao mesmo tempo em que guarda utilidade para as necessidades da vida, revela-se misteriosa ao lidar com uma força transcendental. O povo os reconhece como homens e mulheres dotados de força íntima, detentores de antiga sabedoria e capazes de agir como intermediários entre o semelhante e o plano do sagrado. Não por acaso, a benção que o embaixador ou guia de folia traz - em nome dos Santos Reis - é tão desejada.

Integrantes
Alferes - Carrega a bandeira com a imagem dos Reis Magos e recebe também os donativos oferecidos pelos moradores das casas visitadas. É função de grande responsabilidade, já que a bandeira constitui objeto sagrado da folia. Ela representa os Três Reis, e por isso deve sempre ir à frente do grupo. Durante as gravações, mesmo fora do contexto da festa, todos os grupos posicionaram o alferes com a bandeira na frente. Esta necessidade foi assim expressa:
Aí se a gente for gravar a folia de São Sebastião nós tem que pegar a bandeira com cumpade João. É bom que a gente canta os verso em pessoa. Vê o jeito que é São Sebastião, né? Fica mais bonito, né? Bandeira de Santos Reis, São Sebastião. Parece que pra cantar sem a bandeira também não é certo não, né? Tem que ter a imagem do santo ali pra gente vê (Francisco Messias - Sagarana).
Palhaço - Também conhecidos por marungo ou bastião. Acompanham e vigiam a bandeira. Fazem a consulta ao dono da casa para saber se estes aceitam a cantoria. Nos arcos e em frente ao presépio, costumam declamar versos referentes à história do nascimento. Executam danças e fazem brincadeiras com os donos da casa, geralmente pedindo donativos. Nas funções de maior sacralidade, mantém a máscara levantada.
Nem toda folia usa o palhaço. Algumas das que usam identificam a origem de suas brincadeiras com a tarefa de retardar e desviar os soldados de Herodes, quando da matança dos inocentes. Outras os identificam com os próprios Reis Magos. Já as que não usam, temem excessos nas brincadeiras ou os associam a potências malignas, às vezes o próprio Herodes.
Embaixador - Também conhecido como guia. Puxa o cantorio. No caso da folia de quatro vozes, a embaixada é feita em dueto com um ajudante do guia. Para bem exercer sua missão, deve conjugar habilidades musicais, capacidade de liderança e conhecimento do fundamento da folia, o que muitas vezes se dá pela transmissão oral. Os versos podem ser fixos - da tabela - ou criados na hora. Neste caso, eles podem ser mais do que um improviso:
Quando cê vai fazer uma visita, aí cê chega lá na casa, cê fica sabendo mais ou menos da situação. Nesse caso não tem jeito de escrever. Isso é uma situação que acontece ali na hora. Como é que é isso? Cê cria os versos. Às vezes cê já tá girando há algumas horas, já tá muito cansado e os versos vai saindo tudo direitinho. De onde vem isso? Quem é que tá cantando ali naquela hora, colocando os versos no lugar certo? Aí que vem aquela parte que eu te disse do amor. Então você tendo amor, pensar sempre em Deus, sempre em Santos Reis, então não existe dificuldade na situação que você encontra. Cê vai encontrando, a situação logo te toca o que você tem que cantar. Então a gente não pode misturar outros assuntos com aquele assunto da folia, aquele assunto de Santos Reis, bíblico. Senão atrapalha. Então, a gente vai tranqüilo, porque a gente sabe que no momento Deus manda o que a gente tem que falar. Pra mim sempre mandou. (Luisinho - Inhumas / GO)
Resposta ou coro - Repete um ou mais dos versos cantados pelo embaixador. Pode ser de seis vozes ou de duas vozes. Vários de seus integrantes também são instrumentistas.

Os Instrumentos
Instrumentos tradicionais
Viola - Considerada o principal instrumento, é da preferência de boa parte dos guias, alguns exímios violeiros. Era o instrumento mais difundido no interior do Brasil, ficando identificada com a música tradicional do Centro-Sul e com a música caipira, que dela se origina.
Caixa - Dá a batida e sustenta o andamento do cantorio. Tradicionalmente feita de forma artesanal pelos próprios foliões de um tronco de madeira escavado, com couro esticado por cordas.
Adufe ou pandeiro - Dão o brilho na percussão
Rebeca - Assemelhada ao violino, porém um pouco menor, mais rústica e normalmente com apenas três cordas. Tornou-se instrumento raro nas folias atuais. Como a caixa, havia uma grande tradição de fabricação por mestres populares, que associavam seu ofício ao de São José, carpinteiro.
Sanfona ou acordeom - A primeira a ser usada foi a Pé-de-bode (oito baixos). Hoje, a maior parte dos grupos usa o acordeom. Apesar de mais recente que a viola e a rebeca, especialmente onde os instrumentos eram fabricados pelos próprios foliões, pode ser considerada um instrumento básico da folia.
Instrumentos mais recentes
Violão - Hoje também usado por muitos guias. Bastante freqüente como instrumento dos integrantes da resposta.
Cavaquinho - Executado por integrantes da resposta ou só no acompanhamento. Não é de uso freqüente pelos guias.
Outros instrumentos de percussão (triângulo ou reco-reco - também chamados rapa-pau ou rapa-rapa) - São de uso restrito.

Funções
Giro - Compreende todo o período em que a folia sai, revivendo, em cada casa visitada, a noite de adoração ao menino Deus pelos Três Reis do Oriente e recolhendo donativos para um banquete comum, normalmente no dia 6 de janeiro. O número de dias do giro, posto varie, é muitas vezes associado à duração da viagem dos Magos do Oriente até Belém. Muitas folias fazem o giro à noite, imitando os Santos Reis que seguiam a estrela guia. Em outros tempos, os foliões só regressavam a suas casas depois da entrega da bandeira, permanecendo reunidos durante todo o giro e efetivamente pousando na última casa em que chegavam a cada dia. Dormindo quase sempre em condições precárias, ou varando a noite no arrasta-pé e no catira, nem por isso tinham menos disposição para a jornada.
Cê vai pra folia. Cê pode dormir em cima de pedra, forrá aqui o chão, tem pedra aí, deitá. Amanhã ocê levanta tá com o corpo bão, não sente nada. E ocê sai da sua casa, cê dorme numa cama boa em outra casa, no outro dia cê amanhece, o corpo amarrotado. E, na folia, não. (Seu Rosa - Tocadores)
Alvorada ou Retirada da bandeira - É o primeiro rito do giro. A bandeira que fica guardada em local especial na casa do festeiro - ou imperador -, durante o ano, é retirada para o início do giro. A bandeira com a imagem dos Reis Magos, representando-os, constitui objeto sagrado da folia e segue sempre à frente do grupo. Em algumas folias também se denomina alvorada a retomada da função a cada dia. Neste momento, os instrumentos são benzidos pelo guia, por um benzedor da comunidade ou pelo padre.
Os cantos de início são, geralmente, voltados para a proteção do grupo, para que o giro ocorra em boa paz e livre de qualquer má influência.
Pelo sinal da Santa Cruz / livrai Deus nosso Senhor Para livrar dos inimigos / foi o sinal que Deus deixou Pra fazer o nome do Pai / com a mão direita fizemos E com essas santas palavras / o nosso corpo benzemos (Anunciação / Terno de Folia de Reis de Arinos - MG; giro dois, faixa 1)
Visita a morador - Mesmo sendo ela costumeira ou já tendo sido previamente acertada, o grupo sempre consulta se os donos da casa querem receber a bandeira dos Três Reis e pedem licença para entrar na casa. Nas folias que usam palhaço - ou caetano, bastião, marungo -, eles se incumbem desta tarefa. As visitas podem ser por devoção. Neste caso, o cantorio tende a ser breve. A companhia canta um verso de saudação ao morador, que recebe a bandeira e a leva a todos os cômodos da casa, e o guia o abençoa e pede a oferta para a festa. Também podem ser devidas a pagamento de promessa. Então o embaixador irá se informar do teor da mesma, ajudando o devoto a cumpri-la.
Os Magos se arreuniram / na terra do Oriente / pra cumprir uma promessa / pr’aquele que tá devendo (...) A promessa que vós fez / viemo para cumprir / os Três Reis lhe dá as mãos / ajuda ao céu subir Aí está os Três Reis Santo / todos de bom coração / pra cumprir tua promessa / os Três Reis lhe dá as mãos (Cumprimento de promessa / Cia de Reis de Formiga - MG; giro um, faixa 4)
Nas casas em que há o presépio montado pelo devoto para a adoração, a função é bem mais extensa. A bandeira é recebida e depois depositada no altar e os foliões entoam os cantos da anunciação de Maria, do nascimento de Jesus e da viagem dos Reis Magos. Este canto costuma ser fixo e conhecido como canto das 25 estrofes ou hino do nascimento. Neste momento, revive-se a visita dos Três Reis do Oriente - comumente percebido como a entidade Santos Reis - ao menino Deus, ali presente na casa do devoto. As imagens de santos no altar também se tornam tema da cantoria, com versos quase sempre improvisados.
Pouso - Denomina tanto a casa em que a folia encerra as atividades da noite - ou do dia - quanto as funções que ali ocorrem. O pouso está associado às paradas dos Reis em seu caminho para Belém e nele há um maior número de funções obrigatórias. A companhia se aproxima da casa tocando uma marcha, organizada em duas fileiras. Os palhaços pedem licença para chegar, ou é entoado um canto de chegada ou de porta. Onde é costume montar os arcos - que, segundo alguns, também simbolizam as paradas dos reis -, há o revezamento entre o cantorio e declamação de versos pelos palhaços. Rompendo os dois arcos, a companhia chega até o altar em que está montado o presépio e canta o nascimento e um pedido de pouso para os foliões e agasalho para os instrumentos.
Terminado o cantorio, é servido o jantar para os foliões e visitantes. No jantar, com as panelas postas em cima da mesa, os foliões se reúnem em volta dela para cantar o bendito de mesa. Este é um canto de agradecimento a Deus e ao dono da casa pela comida ali servida. Alguns grupos ainda vão até a cozinha e cantam para as cozinheiras e serventes, agradecendo seu trabalho. No pouso, os foliões são recebidos com festa e muita fartura, mesmo que a casa seja humilde e os donos de poucas posses, sempre há fartura.
O festeiro, eles quase não gasta, que o tanto de esmola que eles tira no giro quase que dá pra fazer a festa, né? Ganha arroz, ganha ovo, ganha frango muito frango, leitoa, bezerro, ganha muita coisa no giro. Que o povo é muito festeiro de Santos Reis, que foi a visita do menino Jesus. Santo Reis tem muito poder com Deus, que deu conta de enganar o Rei Herodes. (Francisco Messias - Sagarana)
Após o jantar, a função religiosa é encerrada com a reza de um terço, que pode ser cantado. Às vezes o terço é adiado para a saída, no dia seguinte. Desobrigados da devoção, vem a diversão: as cantorias, pagodes, curraleiras, catiras, lundus, que compõem o universo musical caipira.
Meu pai e eu tocava a noite intirinha, né? Festa pro povo dançá. Só viola. Também naquele tempo não existia sanfona, era viola. Era a viola que falava a verdade. E tinha uma turma de catireiro lá. Ele me ensinou tocar catira, que ele gostava demais de dançar a catira e o lundu. Eu toquei muito tempo pra eles. Ruim é que eu não sei dançá catira e nem lundu, que eu só ficava tocando! (...) Tinha um negócio duns palhaço também, que incentivava muito, dançava muito. Chegava numa casa, por exemplo, numa casa de almoço ou casa de pouso, tinha que dar uma volta numa catira, num lundu, dar uma sapatada num catira. (João Timóteo - João Pinheiro / MG)
Entrega da bandeira - Encerrando o giro, os foliões passam a bandeira para o festeiro do ano seguinte, que a guardará em casa até o próximo ano. Também é praxe a bandeira ficar com o guia ou com alguém do grupo que se destaque no cumprimento das obrigações religiosas.
Festa de encerramento - Após a entrega, é realizado um banquete para os foliões e visitantes, ao que se segue uma festa com pagode que costuma romper o dia.

Um pouco de história
Quando, na colonização do Brasil, o cristianismo europeu entrou em contato com as práticas animistas da África e da América, o caráter mais sensível do catolicismo português, com seu recurso às imagens e à simbologia dos sacramentos que davam concretude ao intangível, ajudou a estabelecer uma mediação entre as crenças dos tupis e o ideário cristão. Forjando um paralelismo um tanto precário entre os dois universos religiosos e culturais, os jesuítas associaram os rituais tupis - cujo núcleo era o culto aos mortos - às potências demoníacas. Os sacerdotes combateram as cerimônias autóctones, substituindo-as por uma liturgia coral e imagética que era renovada em cada procissão. Além disso, apresentavam aos catecúmenos uma legião de anjos e santos que podiam ser invocados em caso de necessidade. Santos que, de certo modo, também são almas de mortos que intercedem pelos vivos, o que facilitava sua adoção. É neste contexto que as folias chegam ao Brasil, pela mão dos primeiros missionários.
Em Portugal, o termo folia já existia no século XVI - aparece, por exemplo, no Auto da Sibila Cassandra, de Gil Vicente - e denominava uma dança viva ao som de pandeiro e canto, representando os próprios Reis que vão adorar o menino Jesus. Sua origem está no drama sacro encenado nas igrejas no Natal, durante a Idade Média. Com o tempo, esses dramas deixam de ser apresentados exclusivamente em latim e se libertam da música litúrgica. Há também um deslocamento da ênfase do Officium Pastorum - o nascimento e a chegada dos pastores à manjedoura - para o Officium Stellae, que compreende o anúncio aos Reis, a viagem seguindo a estrela, o encontro com Herodes, a adoração do menino, a entrega dos presentes, o sonho revelador e a volta por outro caminho, o que desencadeia a matança dos inocentes.
Aqui, a folia, como a música e o drama, foi usada pelos jesuítas para a catequese. Os Padres Manoel da Nóbrega e José de Anchieta usavam a folia e outras danças nas procissões e nos autos, muitos escritos na língua geral. Com a consolidação da colonização, os rituais usados na catequese do índio disseminaram-se entre colonos portugueses, negros escravos e mestiços de toda sorte e foram incorporados às festas dos padroeiros. Esta combinação da procissão seguida de folia é recorrente na formação das expressões da música tradicional, como a Folia de Reis, Folia do Divino, Folia de São Sebastião, Dança de São Gonçalo.
A fé e a religiosidade do povo são elementos centrais dessas manifestações tradicionais. Forjadas em séculos de labuta no campo, de lida com a terra, elas permanecem em razão da fé dos foliões e do pagamento de promessas dos devotos. Fora deste contexto, tornam-se eventos que se reproduzem mecanicamente pela imitação dos antigos, mas cujo sentido ficou perdido em alguma curva do caminho.
Por fim, a separação entre a cultura do povo e a cultura da elite, acentuada a partir do movimento romântico, e o afastamento da Igreja de práticas rituais populares que havia criado, mas que já não conseguia submeter ao controle de seus sacerdotes, acaba por criar um estatuto especial para a religiosidade popular. Assim, as festas religiosas conduzidas por beatos populares, rezadores, guias de folia e benzedores terminam por constituir rituais distintos e adquirem novas funções.
A convivência do mágico com o religioso instituído nas práticas da religiosidade popular, não raro com predominância do primeiro, é vista como prática profanadora pela Igreja. Sua condenação entretanto, traz como conseqüência o estabelecimento de um sistema religioso autônomo, alternativo e com maior capacidade de penetração e reprodução entre as camadas populares.
Proibidos nos templos, os rituais da religiosidade popular acabam estabelecendo-se nos locais menos sujeitos ao controle da Igreja: as periferias das cidades, as currutelas e as capelas eretas e mantidas pelas comunidades rurais. Isto fez com que muitas Folias de Reis ficassem circunscritas ao ambiente do campo, levando vários estudiosos a considerá-las um ritual do catolicismo rural.
Esta situação, contudo, começa a ser alterada com a introdução do agronegócio e a conseqüente mecanização da lavoura, que acarretam um acentuado processo de urbanização na década de 70, levando a uma grande migração do campo para a cidade e fazendo com que as Folias de Reis reaparecessem na periferia delas. Este fenômeno leva a duas conseqüências na organização do ritual da Folia de Reis. O giro, que normalmente se dava no período do Natal, entre 24 de dezembro e 6 de janeiro, acaba perdendo esta delimitação clara. Algumas folias sequer giram propriamente: são convidadas para pagamento de promessa e apenas fazem a cantoria na casa do devoto. Além disso, com a diminuição de moradores no meio rural, as distâncias entre uma casa e outra aumentam, inviabilizando, em muitos casos, o giro a pé. As companhias passam a girar em ônibus - geralmente cedido pela prefeitura - ou carrocerias de caminhão, carreta de trator etc. Os foliões voltam para suas casas após as atividades de cada dia e o pouso ganha um novo sentido.
Adaptada, em muitas localidades, ao ambiente urbano - ou suburbano -, a Folia de Reis, assim como outras celebrações da cultura popular, todavia, se reproduz no espaço da vida familiar e comunitária, viabilizada pela rede formada por parentes e vizinhos, geralmente adeptos da mesma religião. Desta forma o festejo mostra força e vitalidade para se manter numa situação de heterogeneidade social e em contato com novidades eruditas ou veiculadas pela mídia.

(depoimento de Sebastião Luiz Ribeiro - Itaguari / GO)

Ela começou com uma manchinha vermelha no olho. Aí a minha filha levou ela lá no Taquaral, no doutor Cid. Aí ele desconfiou e mandou ela ir pra Goiânia. Aí chegou lá em Goiânia, fez o exame. Aí deu, constou o câncer no olho dela. E aí, então, eles mandaram ela voltar pra mode de arrumar as coisas dela, pra mode poder operar o olho dela. No que vieram pra tirar os pontos e dar a revisão do olho, o câncer tava voltando. Aí o doutor falou pra ela que esse câncer tinha vindo, que não ia enganar não, que tinha vindo pra matar ela. Aí ela ficou naquele desespero. As minhas filhas veio tudo naquele desespero, naquele choro.
(...) Tinha que ficar lá de 40 a 45 dias. Talvez tinha que arrancar o olhinho dela, fazer aquelas aplicações, cair o cabelinho tudo. E aí eu deitei na minha cama e pedi a Deus, rezando naquela fé, pedindo a Deus e aos Três Reis Santos que curasse a minha neta. Não deixasse aquela enfermidade. Curasse aquela enfermidade do olho dela. Com três dias eu levantei alegre, cantando, rindo. Saiu aquela angústia de dentro de mim. Aí a minha mulher ainda falou:
_ “É, você tá levantando assobiando, cantando, e a nossa neta, só Deus que tem dó. O que ela tá sofrendo não tem cura”.
E aí eu falei assim:
_"Pra Deus tem! Tem cura! Que ela já tá sã. Não precisa de preocupar com isso".
(...) Ela ia na segunda-feira, de madrugada, pegar a Kombi da prefeitura, pra levar ela no médico, pra mode ficar lá pra fazer o tratamento. E eu ainda falei pra minha mulher que não precisava de ficar. Que ela ia, mas ela ia voltar no mesmo dia, que chegava lá e já tinha sarado. Aí eu chamei minha filha, que é a mãe dela, e falei assim:
_ "Ó minha filha, hora que você for, que for passar ela lá no exame, que for dar a revisão, se ocê tem fé com Deus, você dobra mil vezes a sua fé. Que você chega lá e ela tá curada, se Deus quiser".
E na hora que os doutor fez os exames nela, que eles ficaram deferente. Uma médica e dois médicos, ficaram assim sem graça, meio deferente. Mandou ela sentar:
_ "Senta aqui, ô Marilza. Senta aqui, Geane".E eles sentou ao redor da mesa lá.
_ "Pois é, se houver o tal de milagre, Marilza, sua menina não tem mais nada no olho não. Não tem câncer mais no olho não, sua menina".
Aí ela pulou pra riba, chorou, gritou, ria de alegria e falou assim:
_ "Bem que o papai falou que eu ia voltar, que a minha filha tinha curado"
_ "Mas o seu pai falou isso?"
_ "Falou."
(...) E aí ela chegou e gritou, "ô vovó!". Aí minha mulher falou assim:
_ "Uai, é a Geane."
_ "Uai, mas tem que ser. O que que ela vai ficar fazendo lá. Deus curou ela, uai”.
Aí chegou, me abraçou.
_ "É, bem que o senhor falou, papai, que ela tinha sarado".
As outras meninas veio tudo falando comigo, apertando eu.
_ "Ah pai, o senhor viu qualquer coisa?"
_ "Minha filha, como um pecador igual eu vai ver as coisas, que Deus vai chegar e conversar comigo? Isso é a minha fé". Que eu tive tanta certeza que ela táva curada. Isso eu acho que não vou ter mais não. Posso. Eu já recebi muitas graças de Deus, graças a Deus. Mas igual essa fé que eu tive dentro de mim, essa certeza, acho que não vai ter mais não.
(...) Aí eu disse: _ "Pois é, minha filha, ocê ia ficar lá 40 a 45 dias lá, né? Aqui ocê vai ficar só 8 dias. Dia 30 que eu quero ocê aqui. Que ela vai carregar a bandeira dos três Reis”.
E ela girou do dia 31 ao dia 6 com a bandeira na mão. Quando chegava no morro, que via que ela era pequena pra andar, a gente carregava ela, a mãe dela ainda jogava ela na cacunda, carregando a bandeira. Tá na roça, no meio do mato, ela ainda caía com a bandeira, rindo. E carregava naquela maior alegria. Nós naquela maior satisfação. Aí cumpriu o voto. Ela carregou a bandeira os dias tudo na Folia e agora, graças a Deus, taí. Já casou. Tá sadia. Louvado seja Deus!
No outro ano, eu tive essa intenção de acompanhar os Três Reis. E aí fui acompanhar. Quando chega lá na fazenda do finado Salvador Vieira, faltou a quarta voz lá. Que eles não táva lá e o embaixador falou:
_ "É, vocês queriam fazer a folia mineira, mas não tem quem canta a 4ª voz!"
E aí parece que bateu dentro de mim, que é a fé que eu tenho, e eu falei assim:
_ "Não. Pode tocar aí, que eu vou experimentar. Se der certo, canto. Se não, chega com a folia goiana”.
Aí chegou a hora d'eu cantar e o embaixador falou que táva bom, por que que eu não falei com ele que eu era folião, moro esse tanto tempo aqui.
Aí eu falei pra ele:
_ "Não. Folião, não! Porque ocê sabe que ano passado táva cumprindo o voto da minha netinha. Era a fé. Não cantava. Nunca cantei, foi a primeira vez. É milagre dos três Reis." E aí eu continuei acompanhando. Ajudo a embaixar, faço a 1ª, faço a 2ª, faço a 3ª, faço a 4ª. Chega assim e já sei a altura que eu posso cantar. E canto naquela maior alegria, naquele maior prazer, naquela maior fé.