quinta-feira, 8 de maio de 2008

Livro Errante de norte a sul

“Este livro não pertence à ninguém. É um Livro Errante. Se caiu em suas mãos, honra-o com tua leitura, e o deixe seguir viagem”.

O brasileiro lê pouco. Está é uma afirmação ouvida muitas vezes tanto entre leitores quanto entre não leitores. Um grupo de pessoas que se reúne em um site de relacionamento virtual conhecido como Orkut discorda dela, mas acreditam que o volume de leitores pode aumentar com o incentivo certo. Em contato desde novembro de 2006 eles encabeçam no Brasil o movimento conhecido como Livro Errante.

A iniciativa começou nas ruas, com a distribuição esporádica de livros nas ruas feita por algumas pessoas. Logo passou a ser compartilhada entre outros membros da comunidade “O que você está lendo?” e por sugestão do gaúcho Maurício Pons os livros foram emprestados. O primeiro círculo errante a viajar pelo país recebeu o nome de Errante Norte-Sul e contou com dois livros: A Valsa dos Adeuses, de Milan Kundera e O Opositor, de Luís Fernando Veríssimo.

Para formar um grupo escolhe-se um tema para nortear o grupo formado, em seguida os interessados em receber e enviar livros da temática oferecem um ou dois livros, com sinopse, para que eles serem votados e cada um dos participantes vota nos livros que gostaria de receber. O organizador do grupo prepara um roteiro, que prioriza a proximidade geográfica dos membros, e só então os livros circulam.

No começo do projeto os livros eram enviados como correspondência simples, o que acarretou a perda de alguns exemplares. Segundo Regina Porto dona de casa do Recife e uma das idealizadoras do projeto “As perdas aconteceram no início, quando o Livro Errante não passava de um tópico. Lembro de contar 7 unidades perdidas pelos Correios; houve caso de perda por abandono do integrante. Atualmente não acontece mais.”

Do tópico Livro Errante, para a comunidade homônima passaram-se alguns meses, a experiência com a troca de livros aumentou e a perda de exemplares deixou de acontecer apesar de que o volume de trocas aumentou consideravelmente. Não existe estimativa de quantos exemplares circulam, como afirma Lucila Casseb Pessoti secretária-executiva e um dos membros mais atuantes da comunidade “Realmente, eu não faço a mínima idéia de quantos livros já circularam, mas sei que tenho vários circulando.”

Conhecida carinhosamente como Pitaqueira-mor da comunidade, Lucila raramente se recusa a participar de um novo ciclo. Pelo contrário, procura participar ativamente de cada nova formação, até mesmo daquelas destinadas a novatos. O último grupo organizado por ela chama-se Caí o Pano e por ele circula exclusivamente dramaturgia. Ariano Suassuna, Bertold Brecht, Eugene O'Neil e Willian Shakespeare estão entre os autores desse grupo.

Mas não é só dos clássicos que vive o L.E., entre os grandes nomes da literatura mundial também circulam novatos. A literatura contemporânea tem uma grande presença em todos os grupos, além de talentos regionais. Outro livro de destaque do grupo Caí o Pano é “Os Fantasmas de Nietzsche”, peça em dois atos escrita pelos dramaturgos baianos Antônio Marcelo e Jair Santana.

Livros Livres

Além do Livro Errante os membros da comunidade costumam deixar livros em locais públicos para que sejam encontrados por possíveis novos leitores. Essa modalidade de distribuição é conhecida entre seus adeptos no Brasil como Livros Livres e no exterior ela recebe o nome de bookscrossing. O livro recebe uma frase indicando sua procedência e o e-mail do grupo, para que quem encontra-lo possa entrar em contato.

O primeiro retorno direto dessa prática foi percebido no dia 10 de fevereiro. O técnico de informática Guto Ferreira encontrou o livro O Vingador, de Frederik Forsyth na escada de acesso do shopping Iguatemi em Salvador e então entrou na comunidade. Há pelo menos cinco anos não lia nada além da literatura técnica de sua área mas ao encontrar o livro resolveu mudar sua postura.